sobre medo, literatura e novos amores
se você tem medo, quer saber como literatura cura e gosta de romance, leia.
hello hello. seja bem-vinda :)
antes de começar, quero te pedir um favor. se esses textos estão fazendo sentido para você, me envia um comentário falando por quê? eu quero muito ouvir o que você tem a dizer sobre essas newsletters. até porque eu sei que elas não são muito convencionais e não seguem uma linha fixa. mas gosto dessa livre expressão. faz sentido pra você? te toca de alguma forma? me conta?
medo.
"mas você tem medo? não parece". eu já escutei isso. mais vezes do que gostaria. e sempre me faz pensar: nossa, como disfarço bem. acho engraçado. quando foi que aprendi a ser dissimulada? mas agora eu falo. eu falo quando tô com medo. essa semana uma amiga me chamou para um lugar que eu não sabia onde era, parecia longe. fiquei com medo de ir sozinha. sim. eu mesma. sempre tão independente. tava cagada de medo de ir sozinha. eu não falaria antigamente. jamais admitiria que estava com medo. ia inventar uma desculpa. ia convencer a irmos em outro lugar. mas ser vulnerável, ahã, jamais. mas. eu decidi que seria honestamente radical na minha vida e tenho cumprido essa promessa há mais de ano. então só falei: “nossa, eu tenho medo de ir sozinha nesse lugar, não sei onde fica". bingo. ela admitiu que também estava com medo. “vamos juntas, então?”. sim. e tudo se uniu na mais perfeita ordem. percebe? é isso. às vezes a gente tem medo de falar as coisas que sente porque acha que vai ser julgada. e às vezes a gente até vai, dependendo com quem a gente tá abrindo nosso coração. mas quando a gente abre MESMO, 100%, quase nunca somos julgadas. o ser humano tem sim um mecanismo inerente de empatia e ele acaba te assistindo ali se arregaçando e ele não consegue ser malvado com você. pô, você tá com medo. ele também tá. só que você teve coragem de admitir. isso é louvável. então, mesmo que haja julgamento, ainda assim, você pode ficar tranquila, respirar aliviada, porque você teve integridade. nesse quesito é mais sobre você do que sobre o outro. pode parecer contraditório, mas: quando você se desnuda, por mais que seja desconfortável no momento, a longo prazo é muito melhor. porque você sabe que falou o que tinha que falar, que demonstrou seus sentimentos, que não jogou e nem manipulou. então se não deu certo não foi porque você não foi sincera, foi só porque o contexto não estava em sintonia com o que você sentia e isso é bom. limpar as pontas soltas, sabe? daí acho que uma das formas altamente eficazes da gente lidar com os medos é admiti-los em primeiro lugar. sem essa de querer parecer fortona, destemível. você não é. pare de mentir. pra você e pros outros. admita. eu tenho medo. eu tenho medo. você libera um portal, destampa um manancial de coisas. de verdade. você já pode começar agora. fale pra você mesma em voz alta. eu te ajudo. eu começo: eu tenho medo de não conseguir me comprometer a escrever tudo que prometi. eu tenho medo de não ser uma boa cuidadora para meus gatos. eu tenho medo de não ser uma boa filha… eu tenho medo… agora é com você. fale tudo. libere. deixa vir.
literatura.
eu sou fã. de livros. assim, talvez seja quase um vício. mas esses dias me peguei deitada no sofá, um livro novinho, meus olhos correndo pelas palavras, senti o cheiro. pensei: uau, isso que é prazer!!! eu amo. gosto de livros desde sempre. lembro que ficava muito chateada por só saber ler em voz alta quando tinha uns seis anos. treinei muito pra ler em silêncio. quando consegui foi uma vitória. porque aí eu poderia ler qualquer coisa que eu quisesse sem ninguém saber o que eu estava lendo. então eu leio muito desde sempre. às vezes me pergunto se isso é saudável, porque se a história é muito boa eu me perco nela e perco a barreira do que sou eu e do que é história. sempre gostei de literatura porque ela tem o poder de nos curar, de nos levar para outros lugares. pelo menos pra mim sempre foi assim. antes de ter terapia, tinha a literatura. na adolescência, cada livro lido que eu me identificava, era um “ufa” para minha alma de que existiam pessoas tão doidas quanto eu. ou mais. isso era tão bom. os livros me davam o senso de pertencimento, a sensação de que existia algo a mais na vida e por isso eu deveria continuar. de uns anos pra cá, porém, foquei em ler livros que tinham a ver com meu trabalho. mas de repente senti necessidade de nutrir um pouco a imaginação, o relaxamento, os sonhos. aí ontem eu comecei um romance novo. eu lia e ria e até chorava um pouco. passei horas imersa nas páginas. um click me deu quando meu corpo inteiro relaxou em reconhecimento com algumas coisas que a personagem falava. pensei uau. sim. literatura tem o mais alto poder de curar. funcionamos por espelhamento. se alguém fala algo que a gente sente, aquilo cura. a gente abre o coração. relaxamos. não estamos sozinhas. que delícia. agora eu entendo. entendo mesmo. meu papel como escritora desses textos. o porque os livros sempre foram importantes. as palavras que salvam partes fragmentadas do nosso ser. como é lindo a expressão humana. arte. pura arte. esse é um mundo que vale a pena viver. quando tem isso. expressão…
o livro é esse aqui:
novos amores.
minha carne ainda é trêmula, ela sente medo. eu tento relaxar. mas fico paralisada. o medo que acabe. o medo da transitoriedade quando algo é muito bom. o medo que tudo se quebre e tenha que renascer de novo. preciso lembrar constantemente para esse corpo de memórias que estou segura agora. que nada que eu não queira irá acontecer, que ninguém vai me diminuir, que dessa vez vai ser diferente porque sou diferente. mas o coração dispara. não sei qual a potência do meu medo em destruir tudo. todas as vezes meti os pés pelas mãos e deixei tudo queimar. tiveram pessoas que queriam ficar, tiveram oportunidades que deixei escoar. e se de novo eu sentir o abismo e decidir me jogar por que a queda parece mais cômoda? quebrar o corpo inteiro é mais tranquilo que fragmentar um coração? qual a lógica quando não existe lógica? e se pudéssemos criar tudo novo? simplesmente liberando e vendo no que vai dar? talvez o que estrague é a nossa ansiedade por medo de sofrer de novo ou de ficar entediada. se soltar um pouco, pagar pra ver, talvez isso funcione melhor. não sei. não costumo ser uma expert nesse assunto. mas se tem uma coisa que eu sei fazer é tentar subverter a lógica. é ir mais fundo em mim mesma. é descobrir a raiz das coisas. é meter o dedo na minha própria ferida. é costurar meus sonhos. decifrar meus sonhos. engolir saliva. então talvez seja isso. exatamente assim. soltar. entender que o coração que dispara continuará disparando. que o medo que sente continuará sentindo. que a corda bamba sempre será, bem, uma corda bamba. que não dá pra controlar nada. nem algo tranquilo, nem algo quente, nem algo frio morno gelado. não dá. pra controlar. é impossível. então esquece tudo que aprendeu como correto. esquece o padrão que você acha que tem que seguir quando um novo amor aparece. é tão bom. amores afetos. é inspirador se for respeitoso, né? vai, deixa tudo disparar. os alarmes. as sirenes. a buzina. deixa. deixa fazer barulho. deixa o coração chacoalhar. você não sabe, caramba. você não sabe no que vai dar. daí é melhor viver. se quebrar a cara vira brinde pra entreter seus amigos com um coração partido. se quebrar a cara vira choro, vira uns socos no seu travesseiro, uns gritos de raiva. ninguém morre de coração partido. principalmente se você tiver tanto amor que tudo bem. tem mais. tem mais. tem, sim. eu sei que você tem mais que isso. pare de mentir. você só tem medo de sentir demais. mas agora você pode. pode sim.
um beijo,
Camila.
Nossa, agora que a energia assentou eu consigo falar melhor..
Li e reli o texto, me fez pensar sobre a minha própria vida, a princípio com muita frustração (mas depois consegui achar um espaço e autorreconhecimento e gratidão com um trabalho interno. No último parágrafo veio.. empatia, excitação, um pouco de choro até, medo e bem no finalzinho me veio à mente um texto que escrevi na época da mentoria e não te mandei.
Ah, e no final a empatia virou uma vontade de fazer uma limpeza de chakra em você. Rs. <3
Camila, há tempos que quero compartilhar com você o poder que suas palavras têm em mim e nesta em especial me tocou de todas as maneiras possíveis. Tenho andado triste, pesarosa, medrosa demais… seu texto foi uma terapia. É tão bom te ler e saber que alguém me entende, que não sou louca.