*notas*
ontem antes de dormir, vestida em minha pijama confortável com um livro sobre wabi sabi nas minhas pernas, percebi que aquele momento me propunha uma beleza e bem-estar únicos. uma coisa tão simples, mas que me parecia merecer sem fotografada. me questionei brevemente sobre o cotidiano. essa coisa imperfeita a qual todos nós fazemos partes. e lembrei do dia que tive e dos pensamentos que rondaram minha cabeça. e me veio essa ideia: de criar uma série semanal por aqui sobre o cotidiano. sobre essa coisa real e sem filtro. sobre como precisamos lembrar que ele existe, que ele é imperfeito, que ele é bonito. justamente para nos reconectarmos com ele. fazermos parte dele. para não fugirmos em um momento do tempo que é tão fácil fugir, despersonalizar e criar uma ilusão de perfeição.
eu volto para são paulo. cidade que já foi casa há alguns anos. e agora volta a ser. e eu saio na rua. porque talvez não vejamos que esse é um privilégio. poder caminhar. ver gente. mesmo no barulho e no caos, há uma vida pulsando que só existe aqui. e eu rodei. rodei em vários lugares para tentar encontrar uma paz que eu só acho aqui. contraditório, mas não deixa de ser real.
quero me fazer presente na vida. fazer como a eu do passado, sem celular, fazia. eu quero observar o mundo e as pessoas com curiosidade. tentar imaginar como elas pensam, o que suas microexpressões faciais querem dizer. será que aquela mulher está chateada com algo? sua boca franzida aponta isso. quero fazer parte da vida. como um todo. sentindo minha vida de dentro pulsando em conjunto com a de fora, em qualquer lugar que eu estiver.
hoje no metrô, não ousei me distrair com telas dessa vez. nem mesmo um livro. eu sentei e observei. eu percebi que as pessoas não são perfeitas. você já deve saber, no instagram todo mundo parece ser. no metrô tem frizz no cabelo, roupas não combinando, tem pouco preenchimento labial. tem pessoas cansadas, pessoas contentes, pessoas sérias, pessoas absortas em seu mundo. tem adolescentes com cabelo colorido e piercing. tem gente de crocs, gente de tênis, gente descalço. tem gente de todo tipo. com todo tipo de problema. com todo tipo de solução. ontem não vi ninguém com o corpo que ditamos perfeito. não vi ninguém que parecia superior a ninguém. todo mundo muito diferente. no final, todo mundo muito bonitamente imperfeito, em seus próprios mundos, crenças e rituais.
olhando assim de fora, não consegui encontrar um nicho para ninguém. talvez alguns coaches de arquétipo diga que ali, no metro, todos tinham o arquétipo do cara-comum e precisamente por isso estavam andando de metrô e não em um mercedes blindado. mas eu não caio nesse tipo de mentira. de certa forma, sim, todos nós ali pessoas comuns. alguns mais centrados que outros. tantos outros perdidos nos próprios papéis. alguns com corações mais puros, outros mais machucados pela vida. mas me pareceu bom. ser uma pessoa comum. sem um nicho específico para me definir. uma pessoa comum dançando com a vida, sentindo o gosto da vida, vendo a vida de verdade como se comporta - pelo menos uma parte dela, um vislumbre de privilégio, uma sensação estranha e agridoce das coisas como são e que, em algum momento deixarão de ser.
todas aquelas pessoas unidas pelo fato que são pessoas, vivendo na Terra, suas vidas comuns. com cabelo bagunçado, falta de maquiagem e botox. todas elas com seus dissabores, alegrias, tristezas, falta de foco, procrastinação, às vezes foco, às vezes ação. vivendo suas vidas como acham que é melhor, fazendo de suas determinadas condições adubo para acordar todos os dias e continuar sua programação aqui e agora. ninguém melhor que ninguém, tampouco pior.
nesse ponto, exatamente nesse ponto, que me emocionei. todos nós ali. juntos vivendo, respirando o mesmo ar. todos completamente imperfeitos. todos cometemos tantos e tantos erros. todos suscetíveis à manipulação das redes sociais. todos de alguma forma tentando alcançar melhorar em algum quesito porque alguém que não conhecemos nos disse. vez ou outra esse desejo de melhora parte de nós mesmos, do fundo do nosso coração, e é somente esse desejo que importa. todos nós ali, naquela caixa de velocidade, bonitos de doer. e sem saber disso. sem saber da beleza escondida de sermos inacabados, imperfeitos, fora de padrões. vivos. cada um a sua maneira. cada um fazendo o que pode.
o cotidiano é real. e sem filtro.
como é o cotidiano por aí?
sempre fico emocionada quanto vou à praia e vejo tanto pé no chão. realidade mesmo. gente nem aí consigo mesmo de tão feliz em estar naquele lugar. acho mágico!!
Ameiii o texto guria!!! Eu já tive essa reflexão… toda vez que passo tempo demais em Instagram sinto que preciso desse choque de vida real!