*notas*
Minha newsletter talvez seja uma viagem por uma mente neurodivergente, onde o hiperfoco — um belo fenômeno comum entre pessoas AH/SD — toma o leme de tempos em tempos. Quando ele vem, tudo se torna monotemático. Neste momento, ele chegou de forma positiva. Assim, talvez você encontre aqui muitos textos sobre o mesmo tema, mas vistos por ângulos diferentes. Seja bem-vindo ao meu Santuário :)
kill the buddha.
"Mate o Buda."
Essa frase me atravessou como um raio. Meu lado puritano se inquietou; o revolucionário quis saber mais.
Quero te dar um contexto — embora contextos me pareçam desnecessários na maior parte do tempo. Serei breve.
Uma ansiedade, que há tempos eu conseguia manejar, voltou a me tomar. Percebi que as ferramentas que eu havia acumulado ainda precisavam ser lapidadas para segurar o peso quando a vida apertava. Eu precisava de mais, mas também de menos. Entende?
Por sincronia do destino, a arte zen me encontrou — ou talvez eu a tenha encontrado. Foi um hiperfoco que chegou como quem não quer nada. Comecei a ler os clássicos e, ao mesmo tempo, voltei para dentro de mim. Reencontrei o conceito da simplicidade, que tanto me fascinou no passado — tanto que escrevi um livro sobre isso (você pode adquirir ele aqui).
A arte zen fala do vazio. Do silêncio.
Meu conceito favorito ressoou com força: no vazio, todas as possibilidades existem. É no silêncio que tudo começa.
Mas o zen não se detém nos conceitos; ele fala da prática. E a sua principal prática é o zazen — a meditação sentada.
Sete anos atrás, a meditação me salvou de mim mesma. Agora, ela me salva novamente, me mostrando que existem experiências que precisamos reviver para compreendê-las em sua integridade.
Foi nesse contexto que me deparei com a frase: "Mate o Buda."
“Zen é uma religião de não-santidade. Normalmente, na religião, Deus ou Buda é algo sacrossanto; no Zen, entretanto, Buda é não-sagrado, como a negação e a transcendência da santidade. Aqui também está a base, na arte zen, da sua deformação, que não persegue nem está ligada à perfeição. É da natureza, como disse Lin-Chi: ‘matar o Buda, matar o patriarca’.” - tradução livre.
Talvez tenha sido o momento da minha vida. Talvez tenha sido o hiperfoco infinito em estudar a espiritualidade para compreendê-la — ou seria transcendê-la? De qualquer forma, me perguntei como ainda não havia chegado ao zen.
Lembrei então: o mestre chega quando o discípulo está pronto.
Hoje sei que a religião, como estrutura, não é uma meta para mim. O que busco é um lugar que transcenda. Um espaço de vazio e silêncio onde todas as possibilidades existem. É isso que almejo — dentro de mim e na arte que flui de mim para o mundo.
Assim, entre o vazio e o silêncio, sigo. Criando. Transcendendo. E deixando que a arte, como um sopro leve, flua de dentro para fora. Mate o Buda. Ouça o vazio. Tudo já está aqui.
Não está?
Com amor,
Camila.
top 3 livros pra estudar sobre o zen:
Mente Zen, Mente de Principiante
Shunryu Suzuki
O Livro do Chá
Okakura KakuzōZen and the fine arts
Shin'ichi Hisamatsu
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eii Camila, curti essa edição. os livros indicados já entraram na minha lista. obrigada!
Mente Zen, Mente de Principiante é um dos livros mais importantes da minha vida. É absurdamente cheio de nuances, dá pra ler mil vezes e sempre encontrar algo novo. Fiquei feliz de ver ele citado por aqui.